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Como atua uma associação LGBT?

08/07/2010

Reunião do MGA

A criação de uma associação LGBT não é somente para se colocar uma parada do Orgulho Gay na rua com vários trios elétricos, drag-queens, gogo-dancers e muita bandeira do arco-íris, um dia por ano, e nada mais. Ledo engano!

Um grupo homossexual funciona como uma espécie de sindicato para defesa de nossa categoria, reunindo forças para lutar contra a discriminação e pressionar o poder público a garantir os direitos de cidadania de lésbicas, gays, bissexuais e transexuais.

Três são basicamente os objetivos do Movimento Homossexual Brasileiro: lutar contra todas as expressões de homofobia; divulgar informações corretas e positivas a respeito da homossexualidade; conscientizar lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais da importância de nos organizarmos para defender nossos plenos direitos políticos e de cidadania.

Os grupos homossexuais funcionam através de reuniões onde seus membros e visitantes discutem informalmente sobre os principais problemas do dia a dia de suas comunidades, planejam ações de divulgação de nossos objetivos, além de funcionarem como grupo de apoio no processo individual de cada homossexual na conquista de sua auto-estima e divulgando informações e estratégias de prevenção da AIDS e outras DST.

Conheça algumas associações

Movimento Gay de Alfenas
Cellos MG
Cellos BH
Cellos Contagem
Movimento Gay de Alfenas – MGA
Grupos de Pais e Mães de Homossexuais
e-jovem – Grupo e-jovem de adolescentes gays, lésbicas e aliados
Movimento Gay de Minas – MGM

Prefeitura faz enquete sobre o Formiguei

06/07/2010

Imagem da enquete

Entrou hoje no ar a nova enquete do site oficial do Município de Formiga. Ela pergunta a opinião do internauta sobre a fundação da associação.

É bom saber que a partir da criação do Formiguei conseguimos levantar uma questão que nunca tinha sido debatida na cidade, a homossexualidade, comentou o presidente, Tales Tagliaferri.

Visite o site da Prefeitura e vote na enquete.

Não foi dessa vez!?

01/07/2010

Terminado os “3 Dias de Diversidade” qual o saldo que podemos tirar deste início do movimento LGBT em Formiga?

Bem, os eventos aconteceram quase como o previsto, algumas mudanças de local e data, mas a associação foi criada, eleita sua diretoria e o melhor de tudo foram as portas que se abriram para a discussão da homossexualidade na nossa sociedade formiguense.

A partir do artigo do Rev. Xavier, publicado no Diário O Pergaminho, mostrarmos a todos que não é somente a visão da Igreja que prevalece. Temos vontade e direitos que devem ser respeitados na sua integridade. Essa porta nos trouxe a segunda capa e página inteira no jornal além de uma nova entrevista para a TV Alterosa Divinópolis, estamos ganhando projeção regional, já de início.

O saldo negativo foi a ausência das pessoas, principalmente dos LGBT, durante as atividades. Somente 14 pessoas compareceram à Assembléia de Fundação, sendo destes sete heterossexuais, seis gays e uma lésbica. Engavetamos o Varal da Diversidade depois do prejuízo que foi o 1º Arraial da Diversidade. Ontem na exibição do filme já esperávamos que não fosse ninguém e, bingo, acertamos em cheio.

Fico me perguntando: será por medo de mostrar a cara? Só digo uma coisa: “quero ver quem paga pra você ficar assim” (Cazuza). Mas o coordenador nacional do Setorial LGBT do PT, Julian Rodrigues,  me enviou um e-mail dizendo: “Eu faria só um reparo: náo é APENAS 14 pessoas, não!  É uma puta mobilização pra fundar uma ONG em Formiga!“. Acredito que esteja certo já que não foi só ele quem manifestou sobre o número de pessoas presentes. Nilton Luz e Paulo Mariante, militantes influentes do movimento LGBT brasileiro, também disseram que o começo é assim mesmo.

Sair do armário!!!
É sabido que o ato de assumir publicamente sua orientação sexual ou identidade de gênero é um momento significativo na trajetória pessoal e social. O movimento respeita e apoia a decisão e o momento de cada indivíduo, procura oferecer orientação e auxílio sempre quando solicitado. O ato de assumir-se é extremamente significativo, pois traz implicações também ao próprio movimento.

Este processo de auto-aceitação pode durar a vida inteira. Constrói-se uma identidade de lésbica, gay, bissexual ou transgênero primeiramente para si mesmo e, então, isso pode ser ou não revelado para outras pessoas. Sair do armário nada mais é que assumir publicamente sua orientação sexual e/ou identidade de gênero.

PARA REFLETIR – cantou Cazuza:

Brasil!
Mostra tua cara
Quero ver quem paga
Pra gente ficar assim
Brasil!
Qual é o teu negócio?
O nome do teu sócio?
Confia em mim…

Nova mudança:
O uso da tribuna foi novamente alterado devido à solenidade de assinatura de contratos e a presença do Ministro dos Transportes durante a reunião de ontem, 30.

Plenário da Câmara Municipal de Formiga

O presidente do Formiguei, Tales Tagliaferri, fará o uso da Tribuna do Povo no dia 05 de julho para informar sobre a criação da associação e prestar homenagem ao Dia Internacional do Orgulho Gay comemorado no dia 28 de junho. Ouça pela Rádio Cor 106,5 a partir das 14h00, assista pela TV Oeste a apartir das 14h30 ou compareça à sessão.

Sua presença na reunião será muito importante para o movimento.

Formiguei irá exibir o filme Milk

30/06/2010

O filme será exibido na UAB, no bairro Rosário, às 19h00

Dando continuidade às atividades dos “3 Dias de Diversidade“, o presidente do Formiguei, Tales Tagliaferri,  irá fazer o uso da Tribuna do Povo na Câmara Municipal, a partir das 15h00, para falar da associação e as atividades que poderão ser desenvolvidas e também para homenagear o Dia Internacional do Orgulho Gay comemorado no dia 28 de julho. Ouça pela Rádio Côr – 106,5 FM ou TV Oeste, a partir das 15h30.

Às 19h00 será exibido na Universidade Aberta do Brasil – UAB, no bairro Rosário, o filme Milk – A voz da igualdade. O longa conta a trajetória de Harvey Milk (Sean Penn), primeiro político abertamente homossexual a se candidatar e a ocupar um cargo público nos Estados Unidos da América, desde sua decisão de sair do armário, quando ainda morava em Nova York, até seu assassinato por um de seus colegas na Prefeitura de São Francisco, Dan White (Josh Brolin), justamente no momento em que saboreava a derrubada da chamada Proposição 6, que baniria das escolas públicas dos Estados Unidos todos os professores homossexuais e quaisquer outros empregados que os apoiassem. Vale a pena conhecer a vida de políticos principalmente nesse ano eleitoral.

Mudanças
A reunião da Câmara que iria acontecer na segunda-feira, 28, foi transferido para o dia 30 por causa do jogo do Brasil na Copa, conseqüentemente, o uso da Tribuna.

Com essa alteração preferimos mudar a exibição do filme para o mesmo dia só que em novo local. O auditório Odette Kouri está sendo usado pelos atletas do Jemg.

Formiguei é fundado no dia 24

29/06/2010

Apenas 14 pessoas compareceram sendo sete HT e sete LGBT

Foi realizado no dia 24 de junho a Assembléia de Fundação da primeira associação de lésbicas, gays, bissexuais e transexuais (LGBT) de Formiga, o Formiguei – Movimento pela cidadania LGBT na cidade de Formiga-MG. A reunião aconteceu no plenário da Câmara Municipal e contou com a presença de apenas 14 pessoas.

A sessão foi presidida pelo coordenador do Formiguei, Tales Tagliaferri, que iniciou dizendo que aquelas pessoas presentes podiam ser poucas mas muito importantes para o movimento. Na reunião estavam o Secretário de Comunicação, Túlio Fonseca e o ex-Secretário de Desenvolvimento Humano, Luís Carlos, apenas três homossexuais, além dos membros da diretoria, compareceram ao evento. Após as boas-vindas e execução dos Hinos Nacional e de Formiga foi lido o Edital de Convocação.

Em seu discurso o coordenador contou um pouco de sua história, da sua atitude de sair do armário e destacou a vontade de ajudar os LGBT que passam por preconceitos durante a infância e adolescência. “Enganam-se as pessoas que pensam que queremos direitos diferentes, pelo contrário, só queremos igualdade, direitos iguais independente da orientação sexual de cada um. Estamos convencidos de que a erradicação da homofobia e a defesa dos direitos humanos de todos os povos só são possíveis com a construção de sociedades que respeitem a diversidade e que contribua para a co-existência pacífica. Esta tarefa exige de todos nós muito trabalho em conjunto”, disse Tales Tagliaferri ao encerrar suas palavras.

Tales Tagliaferri e Marcos Coelho formaram a mesa provisória

Depois do discurso foi convidado Marcos Coelho para formar a mesa provisória como secretário e redigir a ata. O estatuto foi lido e aprovado por unanimidade. Apenas uma chapa se inscreveu para a eleição da diretoria, sob o nome Chapa Diversidade, com a formação:

Presidente: Tales Tagliaferri Menezes Belchior;
Vice-presidenta: Maria Teresinha de Faria;
Secretário: Marcos Antônio Coelho;
Tesoureiro: Adeon Antônio Almeida Júnior

Foram escolhidos para escrutinar a votação Ronilson Paiva e Luís Carlos. O resultado foi 14 votos a favor e zero contra. Formada a mesa diretora foi aberto para manifestação quem quisesse candidatar a um dos cargos dos Conselhos Fiscal e de Ética mas não houve interesse de ninguém ficando sua formação marcada para uma nova assembléia que terá o edital publicado no Jornal A Cidade e postada no blog.

Depois de todas as formalidades a palavra foi aberta para todos. Quatro pessoas pediram para fazer uso do microfone. Luís Carlos relembrou o artigo do Rev. Xavier e se posicionou a favor do movimento. Ronilson Paiva, a Tia Rona, disse que a partir de agora estão sendo escritos os próximos 150 anos de Formiga. Fabrício Ferraz falou sobre suas amizades com homossexuais e a importância que isso faz para acabar com o preconceito. Túlio Fonseca destacou o trabalho do coordenador e cobrou a presença de autoridades do município.

O ex-Secretário de Desenvolvimento Humano, Luis Carlos e o Secretário de Comunicação, Túlio Fonseca estiveram na fundação do Formiguei

Encerrada a sessão todos foram convidados para participar do 1º Arraial da Diversidade que aconteceu na área externa da Casa do Engenheiro.

Resposta ao artigo do Rev. Ricardo Xavier

22/06/2010

RESPOSTA AO ARTIGO DO REV. RICARDO XAVIER PUBLICADO NO DIÁRIO O PERGAMINHO, Nº 2.881, EM 19 DE JUHO DE 2010

A questão da homossexualidade na religião

Na sexta-feira, 18, recebi a ligação de um jornalista do Diário O Pergaminho querendo saber minha opinião sobre um artigo que um pastor enviou ao jornal contra a criação da associação LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transexuais). Eu em minha ética preferi não saber o autor e nem me pronunciar já que não sabia o conteúdo do artigo.

No dia seguinte recebo uma ligação me acordando. Era minha mãe me contando: “o artigo saiu com chamada na primeira página e matéria interna”. Neste momento entrei em um misto de sentimentos. Não sei se me sentia triste ou alegre. Triste por saber que teremos um longo caminho de pedras a percorrer até que nossos direitos sejam reconhecidos por todos independentes de credo, crença ou religião. Mas alegre porque este ato do Rev. Ricardo Xavier é a porta que se abre para um assunto tido como tabu na nossa sociedade formiguense e que agora está sendo discutido neste veículo de comunicação conceituado por diversas pesquisas.

O intuito da criação de uma associação LGBT em Formiga não é somente para se colocar uma parada do Orgulho Gay na rua com vários trios elétricos, drag-queens, gogo-dancers e muita bandeira do arco-íris, um dia por ano, e nada mais. Ledo engano! Uma entidade LGBT, como o Formiguei – Movimento pela cidadania LGBT na cidade de Formiga-MG, defende e promove a liberdade de orientação sexual e a prevenção e assistência no que diz respeito à Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS) e outras Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST).

Temos a finalidade de conscientizar a sociedade de seus direitos humanos; contribuir para a coleta e organização de informações e a produção de conhecimentos sobre a sexualidade humana; combater qualquer tipo discriminação por orientação sexual; realizar, participar, apoiar e divulgar trabalhos artísticos, literários, cívicos e esportivos de LGBT que visem à promoção da cidadania; e acompanhar toda e qualquer questão jurídica ou policial que diga respeito à população LGBT.

Além de participar de campanhas, fóruns, debates, encontros e entrevistas que beneficie a prevenção à AIDS/DST; desenvolver projetos e/ou programas de prevenção e assistência; e levar à comunidade informações relacionadas às doenças sexualmente transmissíveis.

Podemos dizer que iremos passar informação positiva e isto não faz com que haja mais homossexuais. Surgem sim, mais pessoas com coragem para se assumir visto que a informação ajuda a diminuir os preconceitos.

Ninguém sabe porque é que algumas pessoas são homossexuais. As pessoas não “se tornam” homossexuais sem antes descobrir essa faceta da sua sexualidade. Há teorias diferentes que falam de hereditariedade e do ambiente. Para praticamente todos os homossexuais, a homossexualidade não é uma escolha. A única escolha feita, quando decidimos viver a nossa sexualidade plenamente, é a de sermos honestos, de sermos nós próprios e de acima de tudo, sermos felizes. Não é suficiente que a pessoa seja do mesmo sexo. Os homossexuais têm critérios de escolha do parceiro tão exigentes como os heterossexuais.

Agora entrando no tema da religião é sabido de todos que alguns estudiosos da Bíblia acreditam que o “livro sagrado” condena a homossexualidade, outros não estão de acordo com este ponto de vista. Da mesma forma, dezenas de religiões utilizam a Bíblia como base para a sua fé, no entanto as crenças e atitudes variam bastante entre elas. Através da história, algumas religiões populares utilizaram-na para justificar a escravatura, racismo, abuso de menores, violência doméstica, e machismo. Martin Luther King utilizou as escrituras para inspirar aqueles que lutavam pela abolição da escravatura, enquanto na mesma altura outros utilizavam a Bíblia para promover a segregação racial, e atiçar a violência. Obviamente os textos sagrados podem ser interpretados de muitas formas.

De todos os versos que constituem a Bíblia, existe menos de uma dúzia que abordam o tema da homossexualidade. O significado destes versos permanece relativamente obscuro para muitos, especialmente no contexto de relacionamentos responsáveis e amorosos. Jesus não faz nenhuma referência ao assunto, o que leva muitas pessoas a concluírem que não era uma das suas preocupações principais. A palavra homossexual não aparece em nenhuma tradução da Bíblia cristã até 1946. “O termo homossexual foi criado por um médico húngaro, Karoly Maria Kertbeny, em 1869. A partir de então, passou-se a designar como homossexuais as pessoas do mesmo sexo/gênero que sentiam atração entre si”. (Manual de Comunicação LGBT, pág. 10)

Sou filho de pai ex-protestante, agora católico, e mãe católica criado então, no cristianismo. Com o tempo fui tomando conhecimento das coisas do mundo e me tornei gnóstico creio que o homem pode ser conduzido ao seu estado divino original por seus próprios esforços de forma livre e individual através do conhecimento de Deus. Com isso, também, me dou o direito de argumentar usando de versículos da Bíblia.

Três seções são analisadas como podendo ter contexto homossexual, no entanto são vistas pela maior parte dos cristãos como apenas textos referentes a grandes amizades.O que está em conformidade com a própria Bíblia que tem como doutrina principal o amor fraterno, em que não há a prática do sexo. Recorrendo a apenas uma dessas citações nos dois livros de Samuel encontramos a história de Jônatas filho do Rei Saúl e primeiro na linha de sucessão. Mas Samuel indicou David para ser o próximo rei o que trouxe grande preocupação a Saúl: “a alma de Jônatas se ligou com a alma de David; e Jônatas o amou, como à sua própria alma” (I Samuel 18:1) “E Saul naquele dia o tomou, e não lhe permitiu que voltasse para casa de seu pai. E Jônatas e David fizeram aliança; porque Jônatas o amava como à sua própria alma. E Jônatas se despojou da capa que trazia sobre si, e a deu a David, como também as suas vestes, até a sua espada, e o seu arco, e o seu cinto”. (I Samuel 18:2) (…) “E, indo-se o moço, levantou-se David do lado do sul, e lançou-se sobre o seu rosto em terra, e inclinou-se três vezes; e beijaram-se um ao outro, e choraram juntos, mas David chorou muito mais.” (I Samuel 20:41) (…) “Angustiado estou por ti, meu irmão Jônatas; quão amabilíssimo me eras! Mais maravilhoso me era o teu amor do que o amor das mulheres.” (II Samuel 1:26).

Outra história bíblica defendida por muitos religiosos, especialmente os tidos como conservadores, e também o senso-comum, associam a queda de Sodoma e Gomorra com a prática de relações homossexuais, o que teria feito com que as cidades fossem destruídas. No entanto, estudiosos mostram que o pecado cometido teria sido o da falta de hospitalidade com os estrangeiros, e a intenção de estupro dos visitantes, já que o termo conhecer, fundamental para o entendimento de tal trecho, significaria ali um abuso sexual, e em nada se vincularia a um relacionamento homoafetivo, mas sim ao abuso e à violência.

Em seu artigo o Rev. Xavier faz uso de trechos bíblicos muito usados para condenar os homossexuais masculinos. Estas passagens mencionam relações sexuais entre homens para tentar transmitir uma mensagem mais abrangente. Mensagem esta que foi perdida na ânsia precipitada de condenar os homossexuais.

Segundo os Exegetas (estudiosos das escrituras sagradas), fazia parte da tradição de inúmeras religiões de localidades circunvizinhas a Israel, a prática de rituais homoeróticos, de modo que esta condenação visa fundamentalmente afastar a ameaça daqueles rituais idolátricos e não a homossexualidade em si. Prova disto é que estes versículos condenam apenas a homossexualidade masculina: teria Deus Todo Poderoso se esquecido das lésbicas ou a homossexualidade feminina não era pecado? Considerando que, do imenso número de leis do Pentateuco, apenas duas vezes há referência à homossexualidade (e só à masculina), conclui os Exegetas que a supervalorização que os cristãos conferem a estes versículos é sintoma claro e evidente de intolerância machista de nossa sociedade, um entulho histórico, e não um desígnio eterno de Deus, do mesmo modo que inúmeras outras abominações do Levítico, como os tabus alimentares (por exemplo, comer carne de porco) e os tabus relativos ao esperma e ao sangue menstrual, hoje completamente abandonadas e esquecidas.

Autoridades exegetas protestantes e católicas – como Mcneill, Thevenot, Noth, Kosnik, e muitos outros -, ao examinarem, cuidadosamente, na língua original, os textos das Epístolas aos Romanos 1:2, I Coríntios 6:9 concluíram que, até agora, os cristãos têm dado uma interpretação errada a estas passagens. Quando Paulo diz que certas categorias de pecadores não entrarão no Reino dos Céus – ao lado dos adúlteros, bêbados, ladrões etc… – muitas Bíblias incluem nesta lista os “efeminados” e “homossexuais”. Logo de início, há uma condenação injusta, pois muitos efeminados (como muitas mulheres masculinizadas no comportamento) não são necessariamente homossexuais. As mais modernas e abalizadas pesquisas exegéticas concluem que, se Paulo de Tarso quisesse condenar especificamente os praticantes do homoerotismo, teria empregado o termo corrente em sua época e de seu perfeito conhecimento, “pederastas”. Em vez desta palavra, Paulo usou as expressões gregas “malakoi“, “arsenokoitai” e “pornoi” – que as melhores edições da Bíblia em português traduzem por “pervetores”, “pervertidos” e “imorais”. Portanto, foram estes pecadores que Paulo incluiu na lista dos afastados do Reino dos Céus, e não os “pederastas”, e muito menos os “homossexuais”, palavra desconhecida na Antigüidade. Segundo os historiadores, vivendo São Paulo numa época de grande licenciosidade sexual esperando o próximo retorno do Cristo e o fim do mundo, ele condenou, sim, os excessos e abusos sexuais dos povos vizinhos, mas nunca o amor inocente e recíproco, tal qual o de David e Jônatas. E mais: o próprio Filho de Deus disse que “há eunucos que assim nasceram desde o seio de suas mães” (Mateus 19:12), ensinando, num sentido figurado, que faz parte dos planos do Criador que alguns homens tenham uma sexualidade não reprodutora biologicamente. Todos somos imagem de Deus

O mundo mudou e a Bíblia tem de ser revista, não apenas como um livro religioso, mas como uma poderosa fonte histórica e escrita por mãos humanas, mãos falhas, que nem sempre foram capazes de traduzir com perfeição o que vinha sendo transmitido de geração a geração. Isso é inegável, principalmente depois de tantas traduções que sofreu e do vergonhoso domínio imposto pela Igreja na Idade Média, ocultando informações, incitando temor infundado aos fiéis e até mesmo matando em nome de Deus. Felizmente, este período negro na história da humanidade passou. O amor é a chave para se encontrar Deus. É importante, acima de quaisquer julgamentos puramente humanos e falhos, voltar-se para os grandes princípios que Jesus Cristo nos ensinou: amar a Deus sobre todas as coisas; ama teu próximo como a ti mesmo; não julgueis para não serdes julgados.

Como cidadãos temos o direito de seguir a fé de nossa escolha sem medos de perseguições; no entanto, também como cidadãos temos a responsabilidade de assegurar que as crenças, religiosas ou de outra natureza, não limitam a liberdade das outras pessoas. Algumas religiões indicam que é errado comer carne, consumir cafeína. Outras proíbem a dança, o uso de tecnologias modernas, comer porco ou a utilização de processos de controle de natalidade. Estas pessoas têm a liberdade de viver pelos preceitos da sua fé, mas não têm o direito de obrigar as outras pessoas a viverem de acordo com estes preceitos. Se bem que a maioria da população do nosso país seja Católica, o estado não é governado pelas leis da Bíblia. Pertencemos a uma democracia com lugar para pessoas com diferentes crenças e fés. O nosso país é reconhecido pela sua tolerância e liberdade neste aspecto. As leis e legislação devem refletir esta tolerância pela diversidade ao estender os direitos civis básicos a todos os cidadãos.Tal como nos casamentos heterossexuais as instituições religiosas têm o direito de indicarem quem querem casar de acordo com as suas próprias crenças e políticas. Os homossexuais (masculinos e femininos) não querem o direito de poder casar de acordo com a igreja da sua escolha, mas sim o direito de realizarem uma união legal e beneficiarem dos direitos e deveres atribuídos pelo governo aos casais heterossexuais. Existem já várias religiões em certos países que executam uniões entre indivíduos do mesmo sexo, mas estas cerimônias não têm equivalência legal a um casamento. Os homossexuais não pretendem ter um casamento em termos religiosos (que já podem realizar), mas sim o direito à união em termos legais.

“Por fim, vê-se que qualquer argumentação religiosa em relação ao homossexual não sobrevive a uma análise crítica. Não passam de ficção e convicções cegas. A religião X a homossexualidade, não passa de uma máscara usada para encobrir um pré-conceito. O “argumento” é somente uma preferência pessoal, uma posição apoiada por uma “escolha” e não por argumentos racionais” (Prof. Dr. Daniel Helminiak, ex-padre católico).

OBS: O uso do termo homossexualismo é incorreto e preconceituoso devido ao sufixo “ismo”, que denota doença, anormalidade. O substitutivo é homossexualidade, que se refere da forma correta à orientação sexual do indivíduo, indicando “modo de ser”. (Manual de Comunicação LGBT, pág 14).

Tales Tagliaferri
Jornalista
Membro do Setorial Estadual LGBT do PTMG
Coordenador do Formiguei – Movimento pela cidadania LGBT na cidade de Formiga-MG

3 Dias de Diversidade

17/06/2010

A coordenação do Formiguei está preparando várias atividades para comemorar sua fundação e o Dia Internacional do Orgulho Gay. Serão três dias com eventos que buscam mostrar a luta e o dia a dia da minoria LGBT que há tempos busca seu espaço na sociedade.

O primeiro dia, quinta-feira, 24 de junho, será realizada a Assembleia de Fundação da associação, quando serão eleitos a diretoria e os conselhos fiscal e de ética. Após a sessão no plenário da Câmara Municipal, os presentes irão participar do 1º Arraial da Diversidade na área externa da Casa do Engenheiro.

O 1º Arraial da Diversidade é uma festa junina típica com comidas e bebidas da época, além do som das tradicionais cantinhas de São João e fogueira. Seu cardápio inclui pratos como churrasquinho, feijão tropeiro, milho verde cozido, caldos, canjica, bejo quente e bebidas quentes como quentão, choconhaque, chocolate quente e também, como não pode faltar, cerveja, refri e água.

No sábado, dia 26, é o momento de irmos para a rua com o Varal da Diversidade. Entre os coqueiros da praça Getúlio Vargas estarão expostos paineis contando a história do movimento moderno LGBT que começou em 1969, em Nova York, no bar Stonewall Inn e se espalhou pelo mundo chegando ao Brasil, o país com a maior parada LGBT do planeta.

Já no dia 28 de junho, considerado o Dia Internacional do Orgulho Gay, o presidente do Formiguei irá fazer uso da Tribuna da Câmara para apresentar aos vereadores e à população, o Formiguei – Movimento pela cidadania LGBT na cidade de Formiga-MG e prestar homenagem ao Dia do Orgulho. À noite, para fechar as comemorações dos ‘3 Dias de Diversidade’, será exibido no Auditório Odette Khouri, a partir das 19h00, o filme “Milk – A Voz da Igualdade”, que conta a história do primeiro político norte-americano assumidamente gay assassinado por um colega de bancada.

É necessário ocupar todos os espaços com o intuito de conscientizar sobre a questão da livre orientação sexual e dos direitos humanos de cada cidadão, seja ele homossexual, heterossexual, negro, índio e deficiente. Temos que tornar realidade o que nossa Constituição Cidadã prognosticou em seu Artigo 3º: “Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil construir uma sociedade livre, justa e solidária, promovendo o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação”, comentou o coordenador Tales Tagliaferri.